Quer sejamos Irmãs do Sagrado Coração de Maria ou membros da Família Alargada, todos nós vivemos em comunidade e em família, quer sejamos religiosos ou leigos.
Aqui estão dois pontos de vista complementares, sobre a colaboração com aqueles com quem vivemos, cada um partindo das palavras do Padre Gailhac e examinando como podemos desenvolver as nossas próprias forças e as dos outros para um objetivo “maior do que a nossa vocação individual”.
Juntos, podemos fazer muito mais do que sozinhos. O Padre Gailhac precisava das primeiras mulheres leigas. Nós precisamos umas das outras para transformar as nossas vidas e as vidas daqueles que nos rodeiam.
Podemos ter a certeza da colaboração do Padre Gailhac, por isso, como poderíamos falhar?
Heather Summers e Irmã Marie-France Correau RSCM (Grupo Herança Espiritualidade)
A colaboração é mais do que uma boa ideia!
O Venerável Padre Jean Gailhac, fundador da Congregação das Irmãs do Sagrado Coração de Maria, indicou às irmãs o “verdadeiro fim da sua obra..: dar a conhecer Deus, fazê-lo amar generosamente”.
Ao redigir as primeiras Constituições que orientam o seu caminho, ele introduziu um aspeto importante da responsabilidade das Religiosas que encontramos hoje no nº 29 das nossas Constituições: “como pessoas e como comunidade, somos responsáveis por desenvolver os nossos talentos, por valorizar os das nossas irmãs, por criar um clima em que estes dons possam desenvolver-se e dar frutos”.
Ao encorajar-nos incansavelmente a pôr em prática os nossos dons numa comunidade marcada pela diversidade, mas unida e amorosa, o nosso fundador colocou-nos no caminho de trabalharmos juntas de uma forma que é maior do que a nossa vocação individual. Quando nos encorajamos e nos comprometemos a colaborar uns com os outros e com os outros para “revelar a ternura de Deus, procurando responder aos gritos das pessoas das margens e aos gritos da terra… para intensificar o trabalho de transformação das estruturas injustas…” (doc. Capítulo Geral 2019), isto é, muito mais do que um encorajamento para usar uma estratégia que garantiria maior sucesso para as nossas acções.
A um nível mais profundo, significa pôr-se juntos a caminho para crescer no conhecimento e no amor de Deus: um Deus Pai que está sempre em relação connosco, um Deus que nos ama tanto que nos enviou o seu filho Jesus, que “nada pode fazer de si mesmo senão o que vê o Pai fazer” (Jo 5,19). E é o Espírito Santo que “nos ensina todas as coisas” (Jo 14,26) e nos transforma em discípulos missionários de Cristo, inspirando as nossas opções ao serviço da vida para todos.
Vivendo esta relação de amor trinitário entre nós e com os outros, tornamos Deus presente, participamos na sua natureza e na sua vida, e damos ao mundo um vislumbre do seu rosto: Deus Criador, “sempre em ação” (Jo 15,17), que nos envolve, juntamente com toda a criação, no seu dinamismo colaborante, para “nos despertar para um futuro insuspeito” *.
Irmã Marie-France Correau RSCM
*Irmã C Vincie, RSCM: “Changing metaphors for religious life”
“O que torna uma comunidade forte e poderosa é o Espírito de Nosso Senhor em cada membro e em todos os membros que são um só.”
Estas palavras do Padre Gailhac estavam escritas na parede na sala da comunidade da Casa Mãe de Béziers, como um lembrete constante de que a presença do Espírito Santo é ao mesmo tempo, o meio e o fim da criação de uma comunidade.
O Espírito Santo é o impulso, a força motriz, em cada indivíduo que o motiva a juntar-se e a participar na comunidade. Cada pessoa vem com os seus próprios talentos e pontos fortes para contribuir para a construção do todo.
É da responsabilidade da comunidade reconhecer e encorajar os dons de cada uma.
Isto nem sempre é fácil, pois somos todos indivíduos com as nossas próprias opiniões, algumas das quais muito fortes. Todos nós temos estratégias diferentes para resolver problemas, o que torna difícil apreciar as vantagens das dos outros. É natural para mim pensar que a minha opinião está correta – afinal, não seria a minha opinião se eu não acreditasse nela.
Mas o ego mete-se no caminho e leva-me a querer ter razão a todo o custo – mesmo que no fundo saiba que estou errado. É por isso que pode ser difícil para mim reconhecer o talento dado pelo Espírito a outra pessoa.
E, no entanto, o nosso objetivo, diz-nos o Padre Gailhac, é sermos um só ser através do poder do Espírito Santo. Além disso, nós próprios sabemo-lo. A unidade é algo a que aspiramos. Os momentos de harmonia que todos nós experimentamos de vez em quando, confirmam a nossa convicção de que a colaboração total com os outros e com o Espírito Santo, é o caminho para a unidade, e que é na unidade que se encontra a força e o poder.
Nem sempre é fácil colaborar bem, mas com uma dose de humildade podemos aprender a reconhecer o Espírito Santo nos outros e, aproximarmo-nos um pouco mais da força da unidade que o Padre Gailhac deseja para todos nós.
Heather Summers
Crédito foto abraço : Luís Pedro de Sousa
