A Celebração de um Capítulo é um Acontecimento Eclesial

Posted Junho 3, 2025

Nas Constituições do Instituto das Religiosas do Sagrado Coração de Maria (IRSCM), o Capítulo Geral é definido como “um acontecimento eclesial e um sinal visível da nossa unidade. Nesta assembleia colegial que, quando em sessão, é a maior autoridade interna do Instituto, refletimos sobre a nossa vida e missão na Igreja e tomamos decisões em vista de maior fidelidade à nossa vocação apostólica. O Capítulo Geral determina objetivos e estabelece prioridades para o Instituto” (# 55)

Capítulo Geral 2019 (Belo Horizonte)

No mesmo sentido nos falava o Cardeal Piróneo, em 1968, alargando a compreensão de um Capítulo Geral e incutindo a sua importância e impacto na vida da Igreja: “Um Capítulo Geral não é uma mera reunião de estudo, um encontro superficial ou uma revisão transitória de vida. Um Capítulo Geral deixa de ser um acontecimento privado de um grupo religioso. É um evento que repercute na Igreja, através dos lugares e pessoas com as quais partilhamos a missão e a espiritualidade.”

Para todos os que, no presente, vão ouvindo falar deste acontecimento e da sua importância na missão das RSCM, de que muitos fazem parte, vale a pena trazer à memória uns breves “flashes” dos Capítulos Gerais em que participei e que vivi com muito interesse.

Os Capítulos Gerais do IRSCM nunca estiveram desligados dos contextos eclesiais e sociais contemporâneos. Neste sentido, a partir da minha experiência, vale a pena recuar ao Capítulo Geral de 1968, a coincidir com os grandes desafios e as grandes esperanças e sonhos na vida do Instituto desse tempo. Corriam os ventos da frescura  do Concílio Vaticano II a agitar a Igreja e, dentro dela,  as Congregações Religiosas, às quais o Concílio  deu particular atenção com o célebre Documento “Perfectae Caritatis”: “promovam os Institutos nos seus membros o conveniente conhecimento das circunstâncias dos tempos e das pessoas, bem como das necessidades da Igreja; de maneira que, sabendo julgar sabiamente das situações do mundo dos nossos dias à luz da fé, possam mais eficazmente ir ao encontro das pessoas”.

O IRSCM, presidido então pela Superiora Geral, Ir. Margarida Maria Gonçalves, acolheu o mandato, e a sua resposta foi o histórico Capítulo Geral de 1968 – um longo Capítulo (2 meses e meio em 2 sessões), que envolveu muita preparação a todos os níveis da parte de todo o Instituto: muitos inquéritos, comissões, avaliações, estudos, etc. Deste Capítulo resultou um vasto Documento com Recomendações e Orientações que, uma vez submetidas à aprovação da Santa Sé, foram assumidas por todo o Instituto como caminho a percorrer, em fidelidade ao Espírito.

Recordo este Capítulo Geral, com muitas formalidades eclesiais e estruturas próprias do tempo, que entretanto se foram simplificando nos seus processos, optando por novas metodologias mas salvaguardando sempre, como é evidente, as normas canónicas. Seguiram-se outros Capítulos, com a regularidade prevista nas Constituições, sempre imbuídos do desejo de aprofundar o espírito do Instituto, atualizar o carisma e desafiar a Missão, com um entendimento claro da prática da Justiça onde quer que estivesse a presença RSCM, no meio institucional ou informal, académico ou pastoral, fosse qual fosse o lugar.

O Capítulo Geral de 1975 foi decisivo relativamente ao “APELO À JUSTIÇA”. Foi-se tomando consciência de que seria urgente fortalecer e incrementar a colaboração dos Leigos numa causa que tanto empenhava as RSCM e que tão clara se tornou com a ratificação da Declaração da Missão no Capítulo de 1990:

“O desafio do Evangelho e o espírito de fé e zelo que marcaram os nossos fundadores, Jean Gailhac e Mère St. Jean, e as nossas irmãs fundadoras, impulsionam-nos a responder às necessidades do nosso tempo e a trabalhar com outros numa ação efetiva pela justiça evangélica. Enviadas a promover a vida e dignidade de todos os nossos irmãos e irmãs, neste momento, colocamo-nos a nós mesmas e aos nossos recursos ao serviço daqueles que têm mais necessidade de justiça, tornando os fracos, os mais necessitados, os marginalizados, os sem voz, capazes de trabalharem efetivamente pelo seu próprio desenvolvimento e libertação”.

Percorrendo a sucessão dos Capítulos das últimas décadas e relendo a sua história, não posso deixar de reconhecer a atenção do Instituto ao mundo em mudança, procurando alargar a visão no contexto da globalização, comprometendo-se com a solidariedade e uma crescente consciência da interligação de toda a criação, cada vez mais desafiado a aprofundar   o carisma do Instituto que gera esperança e vida para todos.

De todos os Capítulos Gerais RSCM, foram emanando sempre as mais ousadas orientações que envolvem e comprometem todos quantos, de acordo com seu lugar no Instituto, fazem parte da sua missão e se comprometem com os seus Projetos, à luz dos documentos capitulares.

Este tem sido claramente o rumo traçado pelo Espírito que tem presidido aos Capítulos Gerais RSCM, com a experiência e realismo de cada tempo. As novas realidades do IRSCM, enfraquecido na Europa pelo envelhecimento e diminuição dos seus membros, mas com um novo rosto florescente e promissor noutros países, são um convite a todos os que, sintonizando com a missão RSCM, a desejam continuar em qualquer parte do mundo, e possam dizer neste Ano Jubilar da Igreja e Capitular RSCM: “sou peregrino/a de esperança”. A isso nos convida o Papa Francisco: ser peregrino significa partir todos os dias, recomeçar sempre, reencontrar o entusiasmo e a força e percorrer as várias etapas do percurso que, apesar das fadigas e dificuldades, sempre abrem diante de nós novos horizontes e panoramas desconhecidos”.

Ser peregrina/o neste tempo é isto mesmo, é caminhar e tropeçar com as sombras e pedras do caminho, mas também esperar e acreditar que “a esperança é uma luz na noite”. Papa Francisco.

Falar de Capítulos Gerais e da minha experiência de vida através deles, é relembrar o percurso histórico de um tempo que renovou o Instituto, o fez mergulhar no essencial do seu espírito e o chama, hoje como ontem, à esperança profética, a uma caminhada conjunta, arriscando o novo, “para que todos tenham Vida”.

Maria Lúcia Brandão, RSCM                                                                                                           

 

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