Catherine Vincie, RSHM
“Vivei a vida do Espírito! O Espírito Santo habita em vós e pede a vossa colaboração.” GS/9/X/76
O que o nosso Fundador Jean Gailhac coloca em evidência, é a graça espantosa que a vida de Deus em nós é sempre dada como “oferta” que espera a nossa “resposta e cooperação”. Isto é verdade tanto para os dons individuais do Espírito como para o próprio Espírito Santo. Podemos dizer que o Espírito é uma revelação particular de Deus; o Espírito é a presença interior de Deus em nós. O Espírito Santo de Deus está vivo em nós e permite-nos agir “à maneira de Deus”. Gailhac chama-nos a “viver a vida do Espírito”, e temos a sorte de ter o apóstolo Paulo a dar-nos algumas pistas de o fazer na sua carta aos Gálatas 5,22. Para Paulo, não só somos dotados do Espírito Santo, como também somos destinatários dos “dons” do Espírito Santo. Viver no Espírito é reflectir na nossa vida concreta os dons concedidos pelo Espírito; é assim que cooperamos com o Espírito.
Paulo sugere que o Espírito Santo é Amor e que viver uma vida de amor é querer o bem do outro e fazer alguma coisa para o conseguir, bem como exercer o amor-próprio adequado a que o Espírito também nos chama.
O Espírito também dá os dons da alegria e da paz, que muitas vezes andam juntos. Viver uma vida alegre reflecte uma ligação interior, no fundo das nossas almas, com a profundidade de Deus, que produz uma paz que ultrapassa a compreensão.
A paciência, entendida como sofrimento prolongado, ajuda-nos a alcançar o equilíbrio entre as nossas próprias necessidades e desejos e as necessidades e desejos do outro, especialmente quando o outro exige muito da nossa paciência. A paciência é também o dom de que necessitamos para viver os momentos difíceis da nossa vida, mesmo os momentos de sofrimento intenso, com fé e resiliência.
Viver o dom da generosidade do Espírito é percorrer o caminho que nos torna mais generosos com toda a criação. O Espírito Santo é a generosidade divina e oferece-nos uma parte dessa generosidade.
A fidelidade é o dom do Espírito que nos permite viver e amar plenamente e “até ao fim”. Quando somos fiéis, estamos no Espírito Santo.
O autodomínio, finalmente, é viver uma vida em que tudo em mim é ordenado de acordo com o amor pelo meu próprio bem-estar e pelo dos outros.
Pelo nosso baptismo, somos membros do Corpo de Cristo, a Igreja. Por conseguinte, temos de abordar pelo menos a vida e os dons do Espírito Santo na Igreja.
O Concílio Vaticano II insistiu no facto de que o Espírito Santo santifica e conduz todo o Povo de Deus, não só através dos sacramentos e dos ministérios da Igreja, mas também através de carismas especiais que o Espírito concede gratuitamente a todos os fiéis, de diversas maneiras. Estes dons devem ser reconhecidos e recebidos com acção de graças para a edificação da Igreja (LG 12).
Jean Gailhac certamente concordaria que esses dons divinos também devem ser recebidos e desenvolvidos pelas RSCM para a vida do mundo.
O teólogo Karl Rahner influenciou os Padres Conciliares sobre o papel do Espírito Santo talvez mais do que qualquer outra pessoa. Poderíamos terminar com algumas ideias deste grande teólogo:
O Espírito Santo”, diz Karl Rahner, “é o Espírito da vida, da liberdade, da confiança, da esperança e da alegria, da unidade e, portanto, da paz”. Poderíamos, portanto, supor que a pessoa humana anseia pelo Espírito Santo mais do que qualquer outra coisa.”
“A Igreja é um sacramento do Espírito. A Igreja não pode ser identificada com o Espírito. Não é a Igreja que salva, mas o Espírito, actuando na Igreja e para além dela, que salva.”
Rahner advertiu que o Espírito que sopra em todo o lado e nos mais variados lugares “nunca pode encontrar expressão adequada simplesmente nas formas daquilo a que chamamos a vida oficial da Igreja, os seus princípios, o seu sistema sacramental e o seu ensino”.
Viver estes dons do Espírito Santo, tanto a nível individual como a nível da Igreja, é fazer parceria com o Divino que deseja a plenitude da vida para nós e que nos dá a graça de que precisamos para a tornar realidade.
“Vem, Espírito Santo, enche os corações dos fiéis e acendei neles o fogo do vosso amor.”