Irmã Margaret Fielding, RSHM, Líder do Instituto
Palavras às Participantes
É para mim um prazer encontrá-los ao chegar ao fim do vosso curso de liderança colaborativa. Foi uma iniciativa maravilhosa, Maria Teresa, reunir as nossas Irmãs de Portugal, Brasil, Moçambique, França e mesmo o nosso noviciado(!), juntamente com os nossos colaboradores leigos de vários grupos e obras na nossa Província Portuguesa. A diversidade de origens e experiências dentro do grupo deve ter sido muito enriquecedora e estimulante.
Não preciso de convencê-los da importância deste curso. Experimentaram-no por vós próprios, durante estes últimos seis meses à medida que se conheceram, partilharam, adquiriram novos conhecimentos e aprenderam novas competências e sentiram os laços entre vós crescer e aprofundar – e agora estão prontos a pôr em prática tudo o que aprenderam.
A liderança para a missão foi sempre uma dimensão importante da formação e pratica das RSCM. Hoje, numa época de rápidas mudanças, a sua importância não pode ser subestimada. Fundado em meados do século XIX, as estruturas do nosso Instituto espelhavam as da sociedade e da Igreja da época: a liderança foi hierarquicamente estruturada. À medida que o Instituto cresceu e se estendeu a vários países, a sua força veio não tanto desta ordem externa, mas da sua estrutura interna de unidade, na qual o P. Gailhac insistiu, uma unidade baseada num espírito de fé e confiança entre as Irmãs e as líderes e entre as próprias Irmãs. Esse espírito de unidade tem continuado ao longo da nossa história.
Hoje, como sabemos, a liderança democraticamente eleita é a norma na sociedade e, desde o Concílio Vaticano II, a imagem mais aceite da Igreja é o Povo de Deus, uma comunidade de discípulos que segue Jesus. A liderança no nosso Instituto é entendida como serviço dos outros para a construção da unidade do corpo, exigindo a participação de todos os membros, através do discernimento pessoal e comunitário, procurando juntos a vontade de Deus para o grupo. Isto é liderança colaborativa.
A liderança colaborativa é essencial hoje em dia. Há um reconhecimento crescente no nosso mundo – destacado durante a pandemia de Covid – de que as pessoas dependem umas das outras e que, ao responder aos grandes desafios da nossa era, fazemos melhor quando trabalhamos em conjunto. Questões como a saúde global, desigualdade, alterações climáticas, etc., não podem ser resolvidas por países agindo sozinhos. A cooperação internacional é cada vez mais necessária, para enfrentar os desafios atuais.
O nosso mundo está cada vez mais interligado, interdependente e multicultural, mas, ao mesmo tempo, profundamente dividido pela desigualdade, discriminação e exclusão. A liderança, nesse contexto, para ser eficaz, tem de ser inclusiva e colaborativa. Os líderes cristãos em particular, que estão empenhados em provocar a transformação da sociedade – o reino de Deus – devem fomentar a unidade na diversidade, construir pontes, envolver-se em projectos de colaboração, encorajar parcerias e redes, juntar as suas vozes às de outros grupos ao falar contra os sistemas de injustiça e exclusão e trabalhar para tornar o mundo um lugar melhor. Sob a liderança do Papa Francisco, a Igreja hoje, está a ser firmemente dirigida ao longo desse caminho, um caminho sinodal, onde todos têm voz, todos são chamados a assumir a responsabilidade pelo futuro do nosso mundo, todos são convidados a “ousar sonhar…ousar criar algo novo” (Let us Dream p.6)
Nós, RSCM e colaboradores leigos, fazemos parte da Igreja, com o seu alcance global. Não somos uma empresa ou organização multinacional, mas uma comunidade de fé, uma comunidade de discípulos, companheiros de viagem, leigos e Irmãs que trabalham em conjunto, caminhando de perto com o nosso povo, construindo relações de compaixão e solidariedade, justiça e reconciliação. A nossa missão é uma missão partilhada. Convosco – os nossos colaboradores leigos, a nossa Rede Global de Escolas, a nossa Família Alargada, e muitos outros grupos – levamos por diante a missão de Cristo, para que todos tenham vida. Vós partilhais o nosso carisma e o espírito de fé e zelo do nosso fundador Jean Gailhac e das nossas Irmãs fundadoras e a muitos de vós é confiada a liderança nas nossas escolas, centros sociais, casas de acolhimento, casas de retiro, residências comunitárias. Num mundo em que o individualismo e a auto-realização são seguidos com grande entusiasmo, a vossa liderança é, e deve ser, uma liderança de serviço. Somos todos chamados a isso e a trabalhar juntos, em vez de cairmos na tentação de pensar que podemos fazer tudo sozinhos. JUNTOS SOMOS MELHORES – RSCM e colaboradores leigos apoiando-se e enriquecendo-se mutuamente, dando e recebendo uns dos outros e alcançando todos, especialmente os que estão à margem da vida, os que estão perdidos, feridos, excluídos.
‘Colaboramos com outros, caminhando juntos’ (Doc. Cap. Geral 2019) afirmamos no nosso recente documento de Capítulo. O Espírito de Deus está claramente a chamar-nos para novas formas de estarmos juntos no nosso mundo de hoje, e para responder ao apelo, precisamos dessa unidade, dessa fé e confiança uns nos outros que o Padre Gailhac pediu às nossas primeiras Irmãs … NÓS NECESSITAMOS UNS DOS OUTROS, de sonhar juntos, de discernir juntos e de articular uma visão partilhada para a missão, baseada nas prioridades evangélicas. Juntos podemos realizar o sonho de Deus para o nosso mundo. Esta é a liderança demonstrada pelo Papa Francisco – como se vê na sua encíclica Fratelli Tutti onde partilha a sua visão da sociedade tão profundamente imbuída do espírito do Evangelho – o seu sonho de pessoas de todo o lado se tornarem irmãs e irmãos uns dos outros, passando do conflito à comunhão, construindo pontes, criando uma fraternidade universal (cf. FT216).
‘Colaboramos com outros, caminhando juntos’. Esta, parece-me, é a vossa tarefa – como líderes presentes e futuros. Ao ler a brochura sobre o vosso curso, reparei nos vários aspetos da liderança colaborativa que foram tratados: visão, criatividade, flexibilidade, confiança mútua, boa comunicação, escuta, resolução de conflitos…. Fiquei especialmente impressionada com a inclusão do Ubuntu – a filosofia africana que, parece-me, condensa o que é a vida colaborativa e a liderança colaborativa: “Eu sou, porque tu és”, partilhamos uma humanidade comum e florescemos como seres humanos quando estamos em relação certa uns com os outros e com toda a criação.
Hoje é um dia de gratidão – e talvez haja também alguma tristeza ao chegarem ao fim deste tempo enriquecedor em conjunto. Foram agraciados e abençoados durante estas 12 semanas. Rezo para que levem avante o fogo que se acendeu nos vossos corações, as convicções e os conhecimentos que adquiriram e as competências que conseguiram – para que possam pôr em prática a forma de liderança a que Deus nos chama no nosso tempo, uma forma que seja colaborativa e transformadora para vós próprios e que contribua para a transformação da sociedade em que vivem .
Tal como o Papa Francisco, que nunca desiste do seu sonho de um mundo melhor, rezo para que vós também, nossos líderes de hoje e de amanhã, não desistais dos vossos sonhos, mas trabalheis para os realizar, fazendo do nosso mundo de hoje um lugar onde todos possam ter vida, vida na sua plenitude. onde “todos tenham um lugar na nossa casa comum” (G.Ch.Doc. p.3).
Portugal, 07.07.2021
