Grupo Herança e Espiritualidade
Marie-France Correau RSCM
Enquanto o mundo de hoje enfrenta o desafio da pandemia do Covid 19, aquilo que sabemos da história do Instituto RSCM nos seus primórdios, poderá dar-nos modestos motivos para reflexão.
O fundador Padre Jean Gailhac, era o capelão do hospital de Béziers quando a cólera atingiu a cidade em 1832. A epidemia pesou fortemente no número de hospitalizações e causou a morte de cerca de 100.000 pessoas em França.
Jean Gailhac ficou doente de pleurisia por exaustão, ao serviço dos doentes. O nosso fundador visitava e acompanhava espiritualmente os doentes, entre eles um grupo que foi separado numa sala especial: o as mulheres que estavam doente na sequência da prostituição. O Padre Gailhac tentou ajudá-las e encoraja-las no seu desejo mais profundo de encontrar o caminho de uma vida, onde serão respeitadas e onde poderão tomar a sua propria existência em mãos. O Padre Gailhac estava consciente da complexidade da situação porque o contexto socio- económico pesa muito no futuro destas mulheres. Quando deixavam o hospital, tinham de lutar para enveredar por um caminho de libertação, muitas vezes sozinhas.
Além disso, Jean Gailhac “Sonha ter uma casa que permitiria um grupo maior experimentar o amor misericordioso de Deus e sentir o desejo de viver sempre à imagem e semelhança do Criador”. »*
Sonhar? Como podemos compreender esta palavra em todo o seu potencial transformador?
Sonhar é, antes de mais, abrir os olhos para a sua vida quotidiana, ouvir, deixar-se tocar e questionar pelo que fere ou destrói a vida como gostaria que fosse para si e para cada pessoa.
Sonhar é deixar emergir em si o desejo, a vontade de fazer parte numa mudança. É combater a tentação da inércia e das dúvidas sobre a própria capacidade de influenciar esta mudança.
Sonhar é descobrir e reconhecer os seus dons e solicitar a sua parte de imaginação para contribuir, com outros, e inventar respostas que trazem nova vida.
Jean Gailhac ficou profundamente marcado na sua juventude pela personalidade do Padre Martin. A fé e o empenho social do seu pároco entusiasmaram-no. Reconhecendo os seus dons que tinha recebido, sonha e age com paixão pela Glória de Deus e a vinda do Reino. Para ele, SONHAR é desejar que outros, especialmente aqueles que a vida feriu, possam viver o que está no coração da sua própria existência: a experiência transformadora do amor misericordioso de Deus. Foi o seu “sim” mais íntimo ao amor de Deus Criador e recriador que lhe deu a força e a ousadia de abrir o Refúgio e Orfanato em 1834.
O contexto de crise em que vivemos hoje, revela ainda mais acentuadamente, as desigualdades e reforça as ansiedades face ao futuro. Tal como Jean Gailhac, ousamos “sonhar” e acreditar que todos podem influenciar os acontecimentos fazendo mudanças nas suas proprias vidas no quotidiano.
O Papa Francisco exorta-nos a fazê-lo:
“Não podemos permanecer impassíveis! Com o nosso olhar fixo em Jesus (cf. Hebreus 12,2) e a certeza de que o seu amor funciona através da comunidade dos seus discípulos, devemos AGIR juntos na esperança de dar à luz algo diferente e melhor. A esperança cristã, enraizada em Deus, é a nossa âncora. »**
*V. 1 Uma viagem na fé e no tempo, Sr R do Carmo Sampaio
** Audiência pública do Papa Francisco de 26 de Agosto de 2020.
Artigo em Francês
Qu’en est-il de nos rêves ?
« Quand le monde fait face aujourd’hui au défi de la sortie de la pandémie de la Covid 19, ce que nous connaissons de l’histoire de l’Institut des RSCM à ses tout débuts peut nous donner modestement à réfléchir. »
Groupe Héritage et Spiritualité
Marie- France Correau rscm